CHICO MENDES
MORREU DUAS VEZES
No mundo inteiro, em
dezembro, mais precisamente dia 22 deste mês, são feitas referências ao líder
seringueiro Chico Mendes, dada sua luta pela vida na floresta, num contexto
mais amplo.
Apesar de ter
recebido até o Prêmio Global de Preservação Ambiental da ONU, nunca teve uma
casa adequada para os padrões urbanos, ao ponto de ter sido vítima de uma
tocaia ao sair à noite para seu banheiro externo.
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Foto: Keryma Lourenço/National Geografic, dez. 2018 |
Então, num
primeiro e fatídico momento de 1988, temos a primeira morte – a física – de
Francisco Alves Mendes Filho que, segundo investigações, feita a mando de
fazendeiros que não concordavam com sua política em defesa das florestas, o que
punha em conflito os interesses expansionistas de
derrubadas/queimadas/campo/gado.
Na época, sua
morte causou comoção no estado pela forma covarde de seu assassinato. No
entanto, a figura dele como ambientalista, “cercado” por gringos, sempre
dividiu a opinião da sociedade.
Eis que nos
sobrevém, então, a segunda morte. Desta vez, ideológica, pois desaparecem os
ideais de igualdade, respeito, liberdade e direito à vida e à preservação das
culturas dos povos da floresta... Tudo isso veio com o fim da era petista, que
encerrou seus 20 anos de mando no estado, sem concretizar o sonho socialista de
Chico Mendes.
Apesar de usarem a
frase “Chico Mendes Vive”, na prática suas ideias não seguiram adiante.
Um ideal destruído
por iniciativas capitalistas, pintadas de verde e implementadas no estado com a
alcunha de “Florestania”, que resultou em projetos de exploração florestal
madeireira e de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas
derivadas das falsas soluções do capitalismo verde e o descontrole total do uso
racional das reservas (13% em toda Amazônia) em favor de criação de gado.
A própria Folha de
São Paulo, em matéria escrita ontem, 21, por Carazzai, relata que os ex-seringueiros
deixaram de lado os sapatos feitos à base de látex e adotaram o estilo country, dada a invasão da criação de
gado nas reservas acima do limite permitido, abrindo caminho para o sonho da Hilux e de um padrão de vida bem acima
do que ofereciam os fracassados programas de subsídios da borracha e da castanha
em décadas passadas.
Finalmente, passados
30 anos, qual o legado que a Frente Popular deixou para preservação do lendário
Chico Mendes no imaginário da população do Acre? Não há dúvidas que uma casta
ultra seleta conseguiu seus usufrutos, mas e o restante?
Se ao povo restou,
como consolo, o nome de um Instituto (ICMBIO) e de outros inúmeros logradouros
públicos espalhados mundo afora, quem dera que ele pudesse ressuscitar e cobrar
a prestação de contas de muitos!
Infelizmente, nem
todas as flores do mundo, depositadas em seu mausoléu, seriam suficientes para
perdoar os malfeitores que deixaram o “melhor projeto” de lado para atender as
demandas imperialistas.
Resta saber, no
futuro, se até 2120 algo revolucionário fará do bilhete do “militante”, “herói
da floresta”, “Chico rei”, “líder dos empates”, uma realidade... Porque, por
enquanto, nos resta apenas lê-lo:
“Atenção jovem do futuro, 6 de Setembro do ano de 2120,
aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos
os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista que
pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade. Aqui fica somente a lembrança de
um triste passado de dor, sofrimento e morte. Desculpem… Eu estava sonhando
quando escrevi estes acontecimentos; que eu mesmo não verei mas tenho o prazer
de ter sonhado Bilhete de Chico Mendes, escrito em 1988, ano de seu
assassinato”.